quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

LINGUISTAS LANÇAM PRIMEIRO ATLAS SONORO BRASILEIRO

Lingüistas lançam primeiro atlas sonoro brasileiro Documento reúne mapas e arquivos de som que retratam diversidade da fala do Pará
O primeiro atlas sonoro brasileiro acaba de ser lançado: apresentado em forma de CD-Rom, o Atlas geo-sociolingüístico do Pará reúne centenas de mapas e arquivos de som que retratam a diversidade da fala dos habitantes daquele estado. O projeto, iniciado em 1996, foi coordenado pelo lingüista Abdelhak Razky e envolveu cerca de dez pesquisadores ligados ao Laboratório de Lingüística da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O mapa mostra a representação fonética da palavra 'árvore' da forma como é pronunciada em diferentes cidades do Pará. Clique para ouvir a pronúncia de uma mulher de meia-idade da cidade de Bragança, de um jovem de Cametá e de um homem de meia-idade de Santarém
A equipe percorreu, nos anos 2000 e 2001, 10 zonas urbanas no interior do Pará. Em cada cidade, quatro pessoas foram entrevistas: um homem e uma mulher com idade entre 19 e 33 anos e outro casal entre 40 e 70 anos. Os entrevistados responderam a um extenso questionário padrão, elaborado de forma a levá-los a dizer uma série de palavras. Os lingüistas analisaram 159 vocábulos pronunciados por todos os participantes. "Essa amostragem conseguiu contemplar todos os sons da língua portuguesa", aponta Razky.
Todas as entrevistas feitas para a elaboração do atlas estão disponíveis no CD-Rom. "Um pesquisador interessado pode ouvi-las e fazer sua própria transcrição fonética, de acordo com sua percepção", esclarece. O CD-Rom inclui ainda um software holandês de análise fonética divulgado gratuitamente na internet.
As 'cartas lingüísticas' do atlas apresentam o mapa do Pará com indicações do perfil dos entrevistados, localidade de origem e a transcrição fonética da fala de cada um. O CD-Rom inclui ainda informações históricas sobre cada cidade visitada e uma cópia eletrônica do livro Estudos geo-sociolingüísticos no Estado do Pará, que reúne um resumo de seis dissertações de mestrado ligadas ao projeto.
Razky destaca que o produto pode ser usado como recurso didático no ensino fundamental e médio. "Os professores podem abordar a diversidade das mudanças da fala, o que ajudaria a amenizar os conflitos lingüísticos na nossa sociedade", explica. "Deve-se aprender que não existe certo ou errado, mas diferenças que devem ser respeitadas."
O grupo coordenado por Razky deve atacar agora a segunda fase do projeto. "Pretendemos realizar um estudo em 51 localidades da zona rural, das quais já conseguimos visitar 23", afirma. "A população rural precisa fazer parte do perfil que queremos fazer da fala paraense." A iniciativa faz parte de um projeto maior: o Atlas lingüístico do Brasil, que já tem a Bahia, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul mapeados. Esses atlas regionais, no entanto, foram divulgados apenas na forma impressa.
Os pesquisadores esperam lançar também, ainda em 2004, uma série de oito CD-Roms sobre a fala dos habitantes de outras nove localidades visitadas no Pará. A amostra conterá relatos pessoais de 48 participantes, com 30 minutos cada. "Esse trabalho sociológico e lingüístico contribuirá para o registro histórico da língua portuguesa que possui uma vasta paisagem cultural, tão rica em sons, léxico e gramática", conclui Razky.

O CD-Rom Atlas geo-sociolingüístico do Pará custa R$ 15e pode ser encomendado por e-mail junto a Abdelhak Razky
Renata MoehleckeCiência Hoje On-line15/06/04

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